"Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que a fez tão importante"
(Antoine de Saint-Exupéry)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Chuva/Cinza/Neruda

                                           
Hoje o dia está cinza, as nuvens e a brisa leve anunciam a chegada do outono.
Sempre gostei de observar a  natureza, os fenômenos naturais, a vida que pulsa.
As mudanças de temperatura, tempestades, Maremotos, Ventos  e tudo vai ficando pra trás.
Vai mudando. Acalmando.
A calmaria é diferente,  muitas vezes parecida com aquela que antecede as tempestades.
Olhares perdidos e despretensiosos.
Os pensamentos nem sempre nos permitem ver os contornos, as interrogações, só enxergam as idéias que criam e as angústias que alimentam.
Raios e trovões como tudo na vida não duram pra sempre, e o olho do furacão vai perdendo a forma, sendo varrido pelo vento.
Passado.
Presente.
Futuro: Nunca pensei tanto nele como agora. Tenho a obrigação de ficar por aqui, de vê-la crescer leve  como as asas de uma borboleta, livre como a chuva e feliz como o seu sorriso.
Ontem, a noite foi de recolocar os pensamentos em ordem, reavaliar .
Pequenos pingos de chuva caem constantemente na terra encharcada desde ontem.
Voltei a ler Neruda. Confesso que Vivi. A chuva sempre foi uma presença marcante e constante em seus livros e sua vida...na minha também.
Cada vez que pego esse livro nas mãos parece que o ângulo de entendimento do mesmo muda, parece que fica ainda mais real, mais dentro do meu contexto de viver e sentir.
Também quero confessar um dia que vivi tudo o que tinha pra viver.
Neruda escreveu essa sua biografia 50 anos depois do primeiro livro publicado.
A busca pela imortalidade nas palavras escritas, sua paixão pela natureza, e eu cada vez me encanto mais com sua paixão pela vida.
Então: Hoje é dia de viver o hoje.
De olhar nos olhos e ver o brilho da chuva.
E a vida segue seu curso finalmente com mais tranqüilidade. 
Como deve ser.
“Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”
(Confesso que Vivi - Pablo Neruda)

Foto: Placa na Universidade Livre do Meio Ambiente - Curitiba

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dias de Melancolia


Tem dias que acordo com um aperto no peito, dias de apreensão, de sentimentos desencontrados, indícios de situações que não sei quais são, mas sei que sinto a sensação de coisas presas misteriosamente dentro de mim, de palavras não ditas, de frases não escritas, um coração que lateja, ecoa sonhos e melodias nunca ouvidas,  vontade de pintar o mundo de azul, de voltar a ser criança, de poder voltar e fazer diferente algumas coisas do passado.
São dias que não posso ficar sentada esperando meu coração encontrar sossego. Em dias assim aprendi o significado real da palavra paciência, viver sem preocupações é uma utopia.
Entre a vontade que liberta existem as obrigações que escravizam, hoje poderia ser somente um dia de chuva comum, com raios e trovões, mas a mente brilha, o sol também, a alma viaja por lugares já vistos ou não,  a luz...a ânsia de fazer tantas coisas, e várias são sacrificadas todos os dias.
Sou do tipo de gente que tem coragem, mas que também tem medo sim... medo de perder o que não se pode controlar.
Queria ver minha vida do alto, do avesso, de tras pra frente, num dia de chuva e me surpreender e me encantar com esses novos ângulos.
O inverno está chegando, e com  ele todo o encantamento da estação, queria estar maravilhada com os primeiros dias de outono, ver as folhas que indiferentes a estações ou efeito estufa continuam caindo displicentemente das árvores.
Faz tanto tempo que  não vejo a joaninha que me visitava constantemente, toda exibida e diferente, suas cores não eram as tradicionais, parecia que ela sempre estava em dia de festa, e ela deixava sempre ainda mais coloridas minhas flores. Cada vez que ela aparecia relembrava-me a infância, o perfume das flores daquela época. Ela nunca tinha medo, nunca batia as asas ou ia embora com a minha presença, fazendo com que eu imaginasse mil significados e enigmas. Uma amiga quis catalogá-la,  deixá-la exposta num museu...isso é que não, deu-me o nome científico dela: Diabrótica Speciosa, Família Chrysomelidae...como ela poderia ter um nome tão feio? Como alguém teve essa coragem?
Talvez seja esse o motivo da melancolia...lá eu tinha contato todos os dias com o mundo lá fora...não eram só papéis, números, computadores e pessoas, paredes imaculadamente claras, florescentes iluminando...parece que os dias era maiores, tinha o meu jardim, minha hora do almoço com direito a ar puro, joaninhas e meu gato Pingo, companheiro de 17 anos...
Lá eu tinha vizinhos, sentia o cheiro de café e de alguém fritando bananas ou bolinhos no meio da tarde.
Lá...eu era mais feliz...
Hoje, aqui, preciso urgentemente de férias.

   
"Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa"
José Saramago  

quinta-feira, 17 de março de 2011

Lembranças de Dias que não Voltam Mais

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. 
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."
Na próxima semana já vai completar 6 anos, mas a data de hoje marcou minha vida, nesse dia o brilho do meu olhar ficou prá trás, vidrou, embaçou por muito tempo. Minha visão ficou perturbada, não conseguia ouvir, não falava...meu  coração e mente eram só tristeza, desde o exato momento em que ele se sentiu mal eu sabia que era o começo do fim...todos os sinais haviam me avisado..o sonho, a certeza, por breves horas ou longos segundos, me perdi de mim.
Uma tempestade se anunciou num lindo dia de sol, o vento, os trovões seguidos da chuva forte, mas o maior dos estragos era interno, daqueles que dilaceram a alma, que destroem. Tentei fugir, me esconder, me refugiar de mim mesma. Não consegui. Caí. Fiquei no chão. Sentia os pingos de chuva caindo como se pedras fossem naquele final do dia.
Sentia os abraços, mas parecia que eu não estava ali...
A ausência de cor contrastava com  todo o resto, como se formasse um ponto de fuga. Mas eu não queria fugir por essa porta. Via carros, pessoas, a vida pulsando em cada esquina. Mas como assim? Por que só para os outros? Por que eu não poderia somente continuar vivendo sem essa dor, sem essa perda? Era só nisso que eu conseguia pensar...que minha vida tinha parado. Não conseguia reparar detalhes, cores, cheiros,  não me atinha mais a pontos ou vírgulas, não me reconhecia no meu próprio reflexo, eu era só interrogação.
Aos poucos tudo é reconstruído, como num tsunami, nessa tragédia coletiva que aconteceu no Japão...quantas pessoas estão com esse sentimento, com esse vazio...meu tsunami foi particular...levou embora o que eu mais amava na vida, e eu não sentiria mais o abraço dele, o olhar dele. Só o que ficaria dali para a frente seriam as lembranças, essas permanecem intocáveis, insubstituíveis, e depois da dor lancinante do começo são elas que nos ajudam a levantar, a recompor os pedaços.
Em meio a minha tempestade particular, com o tempo, descobri aos poucos raios de sol, pequenos pedaços de céu azul, camuflados por pessoas, gestos, carinho, amor.
Tive muitos caminhos, direções e a opção da escolha sempre. Optei por voltar a viver, a chuva parou e o sol voltou a brilhar, mas no meu peito sempre continuou tímido, mergulhado no cinza, nunca mais voltei a ser a mesma pessoa, talvez por isso que acho os dias de chuva injustiçados e gosto deles, por que eles parecem fazer parte de mim, da minha história, e me sinto viva com eles.
Cada grande alegria ou grande tristeza que hoje sinto, o pensamente chega nele, serei um dia completamente feliz? As cores voltaram mas nunca mais nada foi igual.
Então em cada final de tarde de sol quando rapidamente tudo se transforma em cinza e tempestade me sinto perto. Dele. Daquele dia. Saudade que aperta o peito.
Até que numa tarde especial tudo mudou...Sol, calor...depois: Nuvens e Vento, Chuva forte, Raios e Trovões...
A sensação arrebatadora de exatamente numa tarde assim trazer ao mundo uma linda criança, dar a Luz, dar a Vida...sentimentos desencontrados, pensamentos de Paz e Felicidade. Sentimento de culpa por ter esperado demais...Eu mesma me sentia sublime, acima de qualquer dor, física ou não....me sentia completa de novo...
Hoje meus olhos ainda brilham ao devanear por minhas mais ternas e eternas lembranças, mas hoje sou muito mais feliz do que triste...
E eu achava que quem gerava uma vida era eu...
Mas quem me trouxe a vida de volta foi Ela....

"Se  nos  encontrarmos outra  vez no crepúsculo  da
memória,  conversaremos de  novo e cantareis  para
mim uma canção mais profunda.
E se nossas mãos  se  encontrarem  noutro  sonho, construiremos mais  uma torre  no  céu."
                                           (Khalil  Gibran)


terça-feira, 15 de março de 2011

Pessoas são um Presente


Hoje eu quero falar de pessoas, de gente, de amigos.



Estou cercada de pessoas que são como raios de sol, que iluminam meus dias, que sabem pelo meu olhar se tudo está bem ou não, tudo o que há de melhor e pior em mim.
Sou grata a cada uma delas pelo bem que me fazem. Embora nem todas estejam todo o tempo na minha vida, participando dela ativamente.

Tem algumas que vejo uma vez por mês em encontros que fazem o tempo voar, outras uma vez por ano e mesmo tendo que atravessar um oceano inteiro, quando nos encontramos parece que nunca estivemos longe. Outras nem moram tão longe, somente em outros estados, mas com a internet acabamos nos falando quase todos os dias e parecem que estão ali do lado, são fontes de energia e proteção. É para elas que recorro quando preciso de colo, de abraço....
E pasmem...tem algumas que nunca vi de verdade....mas eu as sinto perto em momentos muito importantes, o que faz com que a essência delas se perpetue em mim com seus cheiros, suas cores...
Outras pessoas aparecem em músicas, em lembranças e até nos silêncios que tanto gosto...
Mas tem dias que precisamos exercer a paciência com outras...mas acredito que estão ao nosso lado para crescermos como pessoas, como seres humanos passíveis de errar, cair e levantar.
Neste momento, em especial, eu me sinto acolhida pelo Amor e pelo cuidado de gente iluminada. Por você, que está lendo isso aqui. Dia desses recebi algumas palavras de uma amiga que hoje mora num lugar onde os tons de azul são incontáveis, e você não sabe o que é céu e o que é mar que dizia assim:

"A chuva despenteia, derrete a maquiagem, revela nossa alma e deixa a gente quase transparente e sem proteçao.
É preciso muita coragem pra gostar de tudo isso, ser verdadeira para aceitar a exposiçao, e ainda assim continuar sendo luz.
Você é assim"

De outra, que sabe dar o valor exato para o nascer de cada dia, para cada nascer e por-do-sol perto do mar que tanto ama, algo que também me emocinou ao dizer que eu era real e ao escrever:

"E só se vive realmente a vida quando sabemos como somos ou talvez apenas sabemos que queremos o aqui, o agora, o depois, o ontem, um pouco de sol, uma tarde chuvosa... "


Pessoas especiais são assim, e esses pequenos gestos podem transformar todo o seu dia...te dar um pedacinho do céu quando a terra te entristece, te fazer sorrir e chorar ao mesmo tempo, te emocionar, ...parece que fazem a vida valer a pena...nos ensinam a ler os sinais... são presentes de Deus na vida da gente...como esse texto que recebi a muuuitos anos, e o guardo a sete-chaves ainda no papel...e realmente acho que pessoas são um presente....


 PESSOAS SÃO UM PRESENTE

Vamos falar de gente, de pessoas...
Existe, acaso, algo mais espetacular do que gente?
Pessoas são um presente.
Algumas tem um embrulho bonito,
como os presentes de Natal, Páscoa ou festa de aniversário.
Outras vêm em embalagem comum.
E há as que ficaram machucadas no correio...
De vez em quando uma Registrada.
São os presentes valiosos.
Algumas pessoas trazem invólucros fáceis.
De outras, é dificílimo, quase impossível, tirar a embalagem.
É fita durex que não acaba mais...
Mas... a embalagem não é o presente.
E tantas pessoas se enganam, confundindo a embalagem com o presente.
Por que será que alguns presentes são complicados para a gente abrir?
Talvez porque dentro da bonita embalagem haja muito pouco valor.
E bastante vazio, bastante solidão. A decepção seria grande.
Também você amigo.
Também eu.
Somos um presente para os outros.
Você para mim, eu para você.
Triste se formos apenas um presente-embalagem:
muito bem empacotado e quase nada, lá dentro!
Quando existe verdadeiro encontro com alguém,
no diálogo, na abertura, na fraternidade,
deixamos de ser mera embalagem e passamos à categoria de reais presentes.
Nos verdadeiros encontros humanos,
acontecem coisas muito comoventes e essenciais:
mutuamente nós vamos desembrulhando, desempacotando, revelando...
Você já experimentou essa imensa alegria da vida?
A alegria profunda que nasce da alma,
quando duas pessoas se comunicam virando um presente uma para outra?
Conteúdo interno é segredo
para quem deseja tornar-se Presente aos irmãos de cada estrada
e não apenas embalagem...
Um presente assim não necessita de embalagem.
É a verdadeira alegria que a gente sente e não consegue descrever,
só nasce no verdadeiro encontro com alguém.
A gente abre, sente e agradece a Deus.

Pessoas São Um Presente
(Autor desconhecido)

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Dia do Terremoto no Japão

                                          Foto: Capa do Terra hoje 11/03/2011

Em 27 de janeiro postei sobre o Vulcão do monte Shinmoedake que entrou em erupção no Japão.
Como tudo isso sempre me encantou fiquei imaginando que o interior das tais placas vulcânicas, que ficam nas profundezas da terra  estavam se movimentando com mais frequência nos últimos tempos, ou talvez a velocidade de informações de população é que tenha aumentando tanto que nos faz ter todos esses acontecimentos na tela de nossa TV ou computador quase que simultaneamente ao momento que acontecem. E elas nunca acontecem isoladas...começam devagar, parece mesmo que vão avisando o que está por vir...
Hoje de manhã ao ligar a TV antes do trabalho a notícia....um terremoto no Japão...mas quanto a isso, eles estão podemos até dizer quase que "acostumados" têm infra-estrutura, são "primeiro mundo" em se tratando de alertar a população, como se proteger e tudo o mais é ensinado até na escola para as crianças...Mas a magnitude de um tsunami...a proporção não tem comparações, nem exatamente o resultado de tudo, danos materiais, vidas, estragos.
Mas na minha cabeça o pensamento que imediatamente veio foi de uma pessoa...O Paulinho, menino ruivinho que cresceu em nosso bairro, na mesma rua em que eu morava e que jogava bola com os sobrinhos do Paulo na frente de nossa casa...Que despontou e foi morar em Porto Alegre ainda tão novinho acredito que com uns 17 anos...depois a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e o Vasco o receberam...então a proposta pro Japão...Ele está lá e feliz, por conta do seu futebol, do seu maior dom, pela sua capacidade...como será que ele está, será que presenciou algo de tudo isso??? Não fiquei tranquila antes de conversar com a irmã dele e saber que ele estava bem...ufa!!!! O coração respira diferente, mesmo sendo apenas um menino que vi crescer, daí fico imaginando o coração de pais, mães, parentes de pessoas que estão por lá...
Aqui está uma entrevista de um jornal local quando conseguiram falar com ele ainda no Japão. Entrevista ao JSC ainda no Japão
E agora depois de passar uma semana por aqui ele já está pensando na volta:
Já pensando na volta.
Confesso que eu gostaria de presenciar algum acontecimento assim da natureza, um vulcão em erupção, um tornado, uma explosão de estrelas......mas nada que trouxesse tristeza e mortes,  o que é praticamente inevitável...
O último tsunami em 26 de Dezembro de 2004 foi alarmante, lembro que estávamos no sul do Chile, viajando,  e como sempre deveria ser estávamos longe de informações, de televisores ou computadores...e avistando da janela do hotel o gigante Lago Llanquihue junto com ele os vulcões do Sul do Chile...no dia seguinte aquele lago de águas calmas, virou um mar de ondas...mas nada nos foi avisado, nenhuma preocupação quanto a tsunamis por ali...
Hoje me deparei com a notícias de que vários países receberam o alerta e inclusive o Chile, e que a Ilha de Páscoa pertencente ao mesmo está sendo evacuada...por ter sido esse um tsunami numa proporção muito maior ou por que depois de Dezembro de 2004 o mundo tem  mais informações sobre esses fenômenos???
A força do tremor de hoje no Japão de  8,9 graus na escala Richter foi tão impactante que a costa ocidental de toda a América está alertada para a chegada das ondas. Até mesmo o continente da Antártida deve ser afetado.
Mas ...e essa história da usina nuclear? Do trem que sumiu? Que também provocou deslocamento do eixo da Terra? E todos sabemos que outros virão em seguida, as placas precisam se "assentar" e nenhum de nós ainda sabe como terminará...Espero de coração que tudo termine logo, que todo o povo do Japão que tenha sido atingido consiga se reerguer, levantar a cabeça pra recomeçar...só é muito mais difícil para as vidas que foram perdidas...será mesmo que cada um tem o seu destino?
Sempre penso que morrer atropelado, de stress, de ataque cardíaco ou de tédio, seja muito pior do que morrer e virar estatística da história da humanidade...
Sim...daqui a pouco virão os ambientalistas falarem do efeito estuda e tudo o mais...mas lá nas profundezas das placas??? Não...não acredito que a culpa seja do homem...acredito que são situações que precisamos passar...para crescer, para evoluir, que eles tenham força pra isso...
Meu querido Pablo Neruda por ter nascido e amar o Chile, e justamente por isso ter presenciado terremotos,  escreveu sobre eles no livro Confesso que Vivi, que indico como um dos livros que mais gosto.

"Tudo começa as vezes por um movimento vago e os que dormem, despertam. A alma entre sonhos se comunica com raízes entranhadas com sua profundidade terrestre. Sempre quis saber isso – e agora sei. Logo, no grande estremecimento, não há para onde apelar porque os deuses partiram, as igrejas vaidosas foram convertidas em torrões triturados.
O Pavor não é o mesmo do que ocorre do touro iracundo, do punhal que ameaça ou da água que se engole. Este é um pavor cósmico, uma insegurança instantânea, o universo que rui e se desfaz. Enquanto isso a terra soa com um rugido surdo e com uma voz que ninguém conhecia.
O pó levantado pelas casas ao ruir pouco a pouco se aquieta. E ficamos sós com nossos mortos e com todos os mortos, sem saber por que continuamos vivos.."
(Confesso que Vivi – Pablo Neruda)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Águas de Março

                                      Foto: Vôo de Buenos Aires destino a Ushuaia

Tem dias que tenho vontade de sair por aí.
Vontades incontraláveis de reviver lembranças, lugares, momentos...
Voltar ao mundo cor-de-rosa de minha infância, o mundo de sonho, grama verde, balinhas de jujuba nos bolsos de meu avô, junto com o cafezinho quentinho e os morangos colhidos as escondidas de minha avó.
Voltar para um mundo que mais me viu por dentro, do que todos viram ou perceberam por fora, nos dias que chorei na adolescencia, nos dias que me perdi e achei, nos dias de alegria e felicidade extrema, nos dias em que tive medo: do dia seguinte, da vida que estava por vir....dos dias de muita coragem, de achar que o mundo me pertencia...
Os lugares, os cheiros, os barulhos....o silêncio de um dia de sol na praia no inverno, as pessoas passeando com com calma, das gaivotas mergulhando em busca do seu alimento...das crianças que mesmo com frio não resistem ao banho de mar.
Tem dias que sinto saudades de olhar as estrelas até tarde, de ver o ir e vir dos aviões... de imaginar quantas pessoas estão nesse ir e vir, quantos sonhos, quantos esperas, quantos encontros, reencontros...
Não gosto de lembrar de quase nada do passado, mas ele me acompanha bem de perto, sempre....as vezes não quero passar novamente em memória por caminhos que já cruzei, por relâmpagos que já vi, por trovões que já vivi...mas é involuntário....e a saudade se faz presente, concreta, real.
Tem dias que o silêncio se faz, talvez por não tem muito a ser dito, ou ao contrário...por querer dizer tantas coisas que a   voz embarga e os dedos não digitam o que o coração sente.
Tenho saudade do que senti ao ver a gama de cores patagônicas, da primeira vez que vi raios e trovões acima das nuvens....
Mas tenho mesmo saudades de quando amava saber que as chuvas de março fechavam o verão...e hoje elas me trazem recordações de finalização de ciclos, me trazem saudades da época que eu achava que elas eram mesmo promessa de vida no meu coração...
O mês de março é contradição...felicidade e tristeza dentro do mesmo time como diz Nando Reis em uma de suas músicas!!!!

domingo, 6 de março de 2011

Feliz Dia!!!

Era o dia 06 de março de 1993, tarde quente ameaçando a chuva que realmente chegou mais tarde...
A luz nos olhos, o céu estrelado, a paixão por raios e trovões, pela chuva, pelo mar...
Ele nunca estranhou minhas maluquices... quanta mudança essa pessoa tão especial, fez em minha vida caminhando ao meu lado.
Quantos dias felizes e dias de tristeza sem fim.
Mas ele sempre se encantou com a beleza, se deixou contaminar pelos cheiros, pelas cores, pelos lugares mais inusitados...
O que queremos, hoje, é estarmos juntos. Embora o para sempre seja uma instância que não podemos abarcar. Só o tempo, o destino, o futuro poderão dizer, se sim ou não.
Nada melhor do que tentar transformar Emoção em Poesia.
Sentimento em Canção.
Amor em Prece Silenciosa.
Gratidão.
Agora, o que posso deixar aqui é a certeza de que a única coisa que podemos fazer para sermos mais felizes é cuidar do nosso jardim. Porque inevitavelmente a gente colhe os frutos da semente que a gente planta todos os dias, nos corações dos outros, nos corações da gente, no coraçãozinha da nossa princesa, nos corações espalhados pelo mundo...

Foto: 06/03/1993
"...Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando..."
(Pablo Neruda)

terça-feira, 1 de março de 2011

Filhos são do Mundo!

Hoje recebi de uma querida amiga um lindo e-mail e resolvi ser o dia de postar sobre Filhos.
Confesso que nunca planejei ter um filho...Sempre achei que minha vida poderia ser completa, plena, divertida, feliz sem ser mãe...
Mas houve um acontecimento que marcou muito minha vida, e percebi que eu jamais seria a mesma, e me senti muito sozinha...não de amigos, não de família, muito menos do Paulo...Percebi que tem um tipo de amor que é único, que nada se compara....então comecei a pensar no assunto, sem pressa, com muito mais “contras” do que “prós” na minha cabeça da época...ter ou não um bebê? Criar, educar...ensinar a crescer...
Então decidimos que tentaríamos...foi tudo muito rápido, e nunca esquecerei o dia em que soube que estava grávida...um turbilhão de sentimentos ao mesmo tempo...mas confesso que o que mais prevaleceu foi o medo... Não o de ter a criança, ou da gestação.

Foto: Eu no início da gestação!!!

 Fabricar um bebê, um ser humano, é mágico, emocionante...lembro que eu ficava imaginando os pezinhos, as mãozinhas gordinhas, a cor dos olhos, a expressão do seu rostinho, o desejo gigante de que tivesse muita saúde, que se tornasse uma pessoa de bem, que somasse nesse nosso louco mundo...e assim foi...
Numa tarde especial, ela nasceu, num dia em que o mundo está festa, em que todos tentam encontrar a paz e a harmonia....e uma tempestade, com chuvas, raios e trovões anunciou sua chegada...ela a nossa menina...a nossa pequena borboleta.
Que hoje  tem nos olhos o brilho da vida, no coração o amor que é visível, no semblante a alegria que contagia.
Ter um filho é um privilégio fantástico, uma aventura sem volta, é um amor tão incondicional que sinceramente eu nem sabia que conseguiria sentir antes de ter a nossa amada Ana Clara.
Me reconheço nela, principalmente nos traços, na vontade de aprender, de conhecer o mundo, de olhar nos olhos das pessoas...Cresci muito depois do nascimento dela. Aprendi a ter mais paciência, a ver o mundo com outros olhos, e me divertir até não poder mais com coisas que antes eu nem reparava....
Agora percebo todos os dias o quanto ela está crescendo, quanto o tempo está passando rápido e também aprendendo que eu dei a ela a vida mas não posso vivê-la pra ela, não posso sofrer  por ela as dores, as agruras...daqui a pouco não poderei mais escolher os melhores caminhos pra ela, poderei continuar mostrando o certo e o errado mas será ela quem irá decidir...

                                                      Foto: Ana  Clara com 10 dias
Mas de uma coisa meu coração tem certeza...ela será meu bebê pra sempre, minha menina linda, criança sapeca,  minha filha, minha vida...Mesmo se um dia tudo estiver cinza, ou verde, ou azul...em dias de sol ou chuva, ventos ou tempestade...ter um filho é nunca mais estar sozinho, o seu coração pra sempre saberá o que é um amor que não se mede...

                                                  Foto: Eu e Ela Inverno 2010
Bem...aqui está o texto, veio como sendo de José Saramago, acredito que seja dele somente o final, a frase entre as aspas...pelo que conheço da obra dele, que inclusive estou lendo...


FILHOS SÃO DO MUNDO

Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.

Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os filhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles.

Santo anjo do Senhor...

É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e
aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!!

"A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver " 
(José Saramago)